1 de dezembro de 2017
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#VoltandoAosCachos: Leilaine Alves de Rezende

Oi genteee! Sexta A� dia de post #VoltandoAosCachos com muitas das histA?rias lindas de vocA?s. Hoje vou compartilhar o depoimento daA�Leilaine Alves de Rezende que tem 24, mora em CuiabA?, Mato Grosso, e A� redatora publicitA?ria. Espero que gostem! VocA?s podem continuar acompanhando a Leilaine no Instagram. 🙂
E se vocA? quiser mandar seu depoimento pra mim tambA�m, A� sA?A�acessar essa pA?ginaA�e ver como fazer. Quero muito conhecer a sua histA?ria!

 
Era 2006 e no alto dos meus 13 anos eu via coleguinhas da escola sendo elogiadas pelo balanA�o nos cabelos, soltos no pA?tio nos dias de educaA�A?o fA�sica. Eu tambA�m os queria. O meu, sempre rebelde e volumoso, era contido num grandioso rabo de cavalo no topo da cabeA�a, com a frente bem lisa, colada no couro cabeludo e emplastadaA�de creme Seda, gerando uma caspa sem igual. Tinha vontade de tA?-los soltos. Foi quando uma cabeleireira, amiga da famA�lia, sugeriu a minha mA?e que eu fizesse um relaxamento leve.
Quando eu vi o resultado, nA?o me aguentava. Usava solto no colA�gio e nos encontros de sexta-feira. Pintava os olhos e tambA�m uns namoricos. A quA�mica da amA?nia em combinaA�A?o com sol forte modificou a cor dos meus cabelos, o deixando de loiro escuro para ruivo queimado, tipo A?gua de salsicha. Comecei a tingir, mas pouco adiantou: mais laranja ele ficava e ainda tive um corte quA�mico porque tentei tingir e alisar no mesmo dia.
 

 
Em 2007, entrei pro Instituto Federal e a inseguranA�a aumentou. SA? usava preso, mesmo ele estando com o volume baixo. Agora, tinha falhas no cabelo, algumas partes nasciam rebelde e nA?o assentavam. Tinha muita vergonha. Em 2008, pintei de preto azulado e as partes que caA�ram jA? se disfarA�avam no meio da juba. Continuava com a amA?nia religiosamente a cada 6 meses. Agora meu rosto ganhava destaque. O cabelo preto valorizou meus olhos castanhos e minha pela clarinha. Usei preto atA� 2009 e o cabelo cresceu, chegando na metade das costas. Sofrido, muito quebrado no comprimento.
JA? em 2010, mudei de cabeleireira e fiz relaxamento com guanidina. A raiz da parte da frente do meu couro cabeludo feriu, minava A?gua e colava no cabelo. Tive feridas leves. Isso me deu vontade de parar com tudo. Fiquei 6 meses sem nada. Foi quando num primeiro pagamento de a�?freelaa�? que fiz num cerimonial de evento, me veio a ideia de cair na modinha da escova marroquina. Corri pro salA?o e sai na maior felicidade. Cabelo beeeem baixinho, pouquA�ssimas ondas. Com menos de 3 meses, voltei pra retocar e acabei cortando nos ombros. Era o comeA�o da mudanA�a sem fim. Os cortes se sucederam… AtA� eu quase voltar ao natural. Encontrei uma nova cabeleireira, que me convenceu a voltar A� amA?nia, agora num relaxamento bem mais leve que os primeiros (esse nA?o afetava a cor).
Em 2011 cortei mais Chanel, nuca batida. Cabelo voltava a ser saudA?vel aos poucos, porA�m eu ainda nA?o estava satisfeita.
2012 resolvi radicalizar. Fiz luzes bem platinadas. Detonou, quebrou muito. Fiquei de junho atA� novembro somente tratando, hidratando. Conheci o cronograma capilar (hidratar, nutrir, reconstruir) e um complemento vitaminico (pill food).A� Neste momento, eu lia blogs (vi o lindo cabelo da Rayza NicA?cio e me apaixonei. Queria ser como ela!) que me mostravam que o cabelo afro tem sua beleza. Que assumi-lo era um voto polA�tico de gratidA?o A�s minhas raA�zes afro, era aceitar a maneira na qual Deus sonhou comigo quando me criou, era retomar minhas fotos na infA?ncia na qual eu era elogiada por ter um cabelo brilhoso e saudA?vel. Aquela loira nA?o era eu. Aquelas ondas discretas nA?o refletia minha personalidade.
 

 
Foi quando em novembro deste mesmo ano pedi a minha cabeleireira que me fez voltar a amA?nia e a usar o loiro da novela, a cortar a�?tudo que nA?o era meua�?. Ela assustou. Eu permaneci: tira toda a quA�mica que alisa e pinta as molinhas que brotam de mim. Quero-as de volta. Cortei. Assustei a todos a minha volta. Do trabalho, da famA�lia, amigos e namorado. Me chamavam de louca, inconsequente. De sapatA?o, sim. Achavam que tinha perdido a vaidade e que isso me faria perder o namorado. Sofri muito. Chorava quando ia sair e nA?o sabia que roupa me deixaria mais feminina e menos girafa. Comecei a abusar de batons e maquiagens diferentes. LenA�os e turbantes. Brincos, fiquei nos pequenos mesmo. Me habituei a usar sempre colares e A?culos de sol.
Esses novos hA?bitos me fizeram uma nova pessoa. Cortei propositalmente antes de entrar na UFMT, pois sabia que lA? era o lugar de cabeA�a aberta. E acertei em partes. Foi um A?timo comeA�o. Afinal aquele simples corte de cabelo me ajudou a filtrar amizades, amores, relaA�A�es profissionais. Minha antiga profissA?o nA?o permitia um cabelo volumoso num evento ou no lobby de um hotel. Era sinal de desleixo. Como estudante de publicidade, via veteranas indo pras agA?ncias com aqueles lindos Black powers e sendo reconhecidas como mulheres de atitude por isso me motivei cada vez mais.
 

 
O cabelo foi crescendo, fiz poucos cortes no decorrer do tempo. Conheci a rotina no/low poo (atravA�s de um vA�deo da Rayza que ela citava a tA�cnica, fiquei curiosa e achei o grupo do facebook que faA�o parte ate hoje). Comecei a praticar em junho de 2013 e meu cabelo sA? crescia e respondia positivamente. Agora era eu refletida no espelho. Das diversas situaA�A�es que vivi, a mais recorrente foi: a�?Nossa, porque vocA? fez isso com vocA?? Era tA?o lindo antes, menos rebelde.a�? Ou ainda a�?Nossa, tA? volumoso nA�? E desse tamanho nem prender dA?? Passa mais creme na prA?xima!a�? E mais absurdo que isso tem a�?Desse tamanho dA? pra puxar na hora a�?Ha�?? Porque cabelo de mulher A� pra issoa�? Enfim. Mil coisas.
Hoje, em pleno 2017, jA? cortei outras mil vezes, agora com menos apego ao comprimento e muito mais autoconfianA�a pra me permitir experimentar as minhas muitas identidades. O volume ainda incomoda onde passo. O frizz, a imperfeiA�A?o e a irregularidade sA?o questionados. Mas hoje sei que tudo isso virou traA�o de mim, reflexo da minha personalidade, da diferenA�a que eu faA�o nesse mundo que tem muito que amadurecer quando o assunto A� identidade.
 

 
O que A� autoestima pra vocA?? A� se amar em essA?ncia. Mesmo quando estou sem maquiagem, despenteada, com espinhas. A� entender que somos humanos imperfeitos e A� justamente aA� que vive a nossa beleza.
O que mudou na sua vida depois que vocA? se aceitou? Me sinto muito mais segura no meu cotidiano. Isso significa que eu saA� de um relacionamento desgastado que sA? se mantinha porque eu achava que ninguA�m me aceitaria com meu cabelo e personalidade. Isso me fez fazer uma segunda faculdade e ter outra profissA?o, porque acreditei que ainda era tempo de buscar algo que realmente me fizesse feliz. E se precisar, faA�o outra… Sempre hA? tempo. Me fez pensar mais em fazer coisas que EU GOSTO, do que sA? o que minha famA�lia, amigos, namorados gostam. Isso me fez me redescobrir como mulher, pessoa, humana.

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  • Bruna
    07/12/2017

    Amei sua história, estou tentando começar a transição mas nunca tenho apoio da minha família. Mas uma hora vai dar certo, parabéns! Você é linda <3